28 maio 2011

Disléxico: diferente, mas não limitado

grafia errada, a leitura sem ritmo e a compreensão diferente das palavras demonstravam que havia algo errado com Gabriel do Nascimento. Aos 9 anos de idade, ele ainda apresentava dificuldade em escrever frases ou ler pequenos textos e não acompanhava o desenvolvimento dos outros colegas de classe. A mãe, Rita, tentou reverter a situação estimulando-o a praticar esportes e até pensou em trocá-lo de escola, mas a mudança só ocorreu quando uma psicopedagoga do próprio colégio sugeriu: Gabriel tem dislexia
  “Na hora foi um susto, porque já tinha ouvido falar do distúrbio, mas não conhecia ninguém que fosse disléxico. Enchi a educadora de perguntas, li dezenas de artigos, mas depois percebi que era apenas uma maneira diferente de aprendizado e não uma limitação”, comenta Rita Nascimento.
  A partir de então, família e escola estabeleceram outra rotina para Gabriel. Alguns livros foram substituídos por CDs e vídeos didáticos e os deveres de casa receberam focos e prazos diferenciados. “Como identificamos rapidamente a dislexia, pudemos educá-lo de forma mais eficaz e ter mais paciência com certas dificuldades, porque sabemos que não é preguiça ou irresponsabilidade”, afirma a mãe.
  A situação de Gabriel, porém, não reflete a maioria das crianças e jovens disléxicos no Brasil. Segundo pesquisa realizada em março deste ano pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 70% dos profissionais de saúde e educação envolvidos têm dificuldades em diagnosticar o transtorno.
     O psicólogo José Carlos Melo, do Núcleo de Transtornos Globais do Desenvolvimento da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), diz que os profissionais devem ser capacitados para reconhecer diferentes distúrbios de desenvolvimento. “O professor precisa estar atento a sinais de desorganização na leitura e escrita, excesso de timidez, troca de fonemas. Tudo que possa indicar algo diferente”
 Também é necessário que outros transtornos sejam analisados conjuntamente até que a dislexia se comprove. “Existem outras dificuldades de aprendizado, como o déficit de atenção e hiperatividade, que acompanham , às vezes, o disléxico, mas não são necessariamente iguais”.
   Se não é reconhecida e tratada, a dislexia pode gerar distúrbios psicossociais, como delinquência, depressão e baixa autoestima, pois o disléxico sente-se inferior aos demais. “Ele pode receber bullying nas escolas e até ser repreendido pelo próprio professor. Já foram comprovados casos de disléxicos que não se adaptaram ao convívio social”, frisa José Carlos Melo.
Por ser uma doença genética, causada por uma mutação no cromossomo 6, a dislexia não é completamente extinta, mas pode ter seus sintomas diminuídos. O tratamento baseia-se em estímulos e estratégias cognitivas para minimizar as dificuldades em lidar com a linguagem escrita. “Trabalhar com música e imagens, por exemplo, ajuda o disléxico a compreender mais rápido. O problema é que os métodos atuais de ensino se restringem muito à leitura como única forma de aprendizado”. (Diário do Pará)

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